Certa vez, li que um velho índio foi questionado sobre seus conflitos internos. Pensativo e fumando seu cachimbo, ele confidencio:
“Dentro de mim existem dois lobos – o lobo do ódio e o lobo do amor. Ambos disputam o poder dentro de mim”. Um jovem da tribo pergunta: “E qual lobo vence?” O índio, sem pestanejar, responde: “Aquele que eu alimento.”
Vivemos tempos difíceis, marcados por conflitos entre nações, por radicalismos religiosos que derramam legiões de refugiados, por crises econômicas sem fim. No início de setembro, a humanidade ficou chocada diante do corpo do menininho sírio refugiado, Aylan Kurdi, carregado por um policial turco no balneário de Bodrum, no mar Egeu. O ser humano parece assustado com a falta de rumos, com a violência que o cerca, incapaz de seguir o caminho correto, com ética, moral e nobres sentimentos.
A tecnologia digital avança mais do que nossa capacidade de absorvê-la e nos arrasta para um mundo virtual ainda vulnerável. Isso parece nos tolher a capacidade de meditar, de ver a realidade, de descobrir a verdade e de definir nossos caminhos. Há poucas lideranças, civis e religiosas, aptas a ver a planície do alto da montanha e com carisma para apontar soluções seguras para suas nações e para a humanidade como um todo.
O lobo do ódio parece estar sendo melhor alimentado do que o lobo do amor – do amor puro, sincero e verdadeiro, capaz de apontar novos rumos para a humanidade, para nosso país, nosso estado, nossa cidade, nossa família e para cada um de nós.
O amor verdadeiro, fonte de felicidade, é acima de tudo doação, entrega. Em seu livro Mensagens do Céu, o mestre Ryuho Okawa, fundador do movimento religioso Happy Science, diz que “amar as pessoas, nutri-las e perdoá-las envolve uma abordagem ativa de nossa parte, sem pensar em qualquer retorno”. É uma forma de altruísmo, sentimento que parece esquecido em nossos dias.
A revolução do amor deve partir de dentro de nós. E o ponto de partida é a descoberta de que a verdadeira felicidade está mais no ato de “fazer” algo pelos outros do que na insaciável expectativa de ser amado. Tiremos um tempinho e tentemos recordar as vezes em que amamos alguém de verdade, ou pelo menos as vezes em que tentamos amar e ajudar alguém. Recordemos também o quanto os outros já fizeram por nós – toda a ajuda e carinho recebidos dos pais, dos amigos, dos professores.
Nós vamos nos surpreender com este “balancete do amor”, em que teremos muito mais créditos recebidos do que repassados aos que nos cercam. Provavelmente perceberemos que boa parte do vazio que nos atormenta está no egoísmo que cultivamos. Um “balancete do amor” bem feito nos levará a um profundo arrependimento pela maneira como temos vivido. Perceberemos que, talvez, precisemos nos tornar uma nova pessoa. E, aos poucos, entenderemos que deve haver “uma felicidade muito superior àquela que estamos buscando, apenas satisfazendo nossas vontades”.
Ainda em Mensagens do Céu, Ryuho Okawa nos diz que “o autodesenvolvimento no sentido verdadeiro ocorre quando semeamos uma parte de nossa alma, espírito, mente ou coração nos outros. É influenciar as pessoas de forma positiva pela sua maneira de viver ou de pensar. Em geral, pensamos que perdemos alguma coisa quando damos, e que ganhamos algo quando recebemos. Mas, de uma perspectiva espiritual, quanto mais damos, mais crescemos. O verdadeiro caminho para o autoaprimoramento não está em defender nossos interesses. A verdadeira felicidade só pode ser encontrada quando compreendemos nosso verdadeiro valor como seres humanos e nos colocamos a serviço dos outros”. Alimentemos diariamente o lobo do amor que vive em nós.